Uma crônica para os 450 anos de São Paulo:
Foi assim que tudo começou pra mim quando ninguém pensava que pudesse ser assim: minha avó materna, "obatian", Dona Fumiko Abe casada com um rapaz que ela não gostava ( por causa do bendito "myai" , o casamento arranjado tradicional no Japão ) veio para o Brasil e decidiu junto ao moço que cada um ia seguir o seu caminho ( minha avó separada naquela época? Muito á frente do seu tempo!!!) conheceu o meu "ditian", o Sr. Soji Sugahara e se uniram tendo 9 filhos no Brasil, dos quais só conheci 8, entre eles a caçulinha, minha Celinha querida.
O outro " Di ", paterno, Kunio Ohira veio de navio e conheceu a " Bá ", Dona Mioko Misaka na nossa terra de palmeiras onde canta o sabiá... Tiveram 7 filhos, um morreu ainda criança, mas ao xodozinho mais novo deram o nome de Sahumi ( Giba para os chegados ), meu papito.
A colônia foi se alojar no interior de Sampa, atrás de promessas de terras onde tudo o que se planta, colhe e onde o dinheiro nasce em árvores. A promessa feita á muitos imigrantes...
Fato é que os vovôs conseguiram um pedaço de terra. O Seu Soji em Monte Alto e o Seu Kunio em Itapólis ( e viva o Oeste!! ) . Foi assim que mammys nasceu em Monte Alto e o papito em Itapólis. O "Di" mandou a mamys pra Jabotical pra estudar e o papito ia pra cidade, foi lá onde concluiu o ginásio, que naquela época nem me lembro como chamava...
Com 14 ou 15 anos, a mamys veio trabalhar e estudar em Sampa. Morava com a minha tia Mitiko na Vergueiro, trabalhava em um escritório de contabilidade e fazia facú á noite. O papito veio chorando do sítio porque não queria vir pra São Paulo, com um bico enorme e sem poder contrariar a matriarca da casa, trabalhava durante o dia, fazia o técnico á noite e ainda limpava, cozinhava , lavava e passava pra ajudar a minha tia Inês que trampava em uma fábrica da família do Maluf.
Seu Soji já morava em Itapólis nessa época, em um sítio com uma casa enorme, muitos quartos, uma mesa imensa, o "ofurô", o jardim japonês, tudo o que eu acho lindo até hoje apesar do tempo ter levado um pouco do glamour de outrora.
Mas entre festas de família, indas e vindas de Itapólis para São Paulo, o papito e a mamys começaram a namorar e se casaram. E foi assim que eu vim nascer aqui, nessa cidade louca, que não pára, tão workaholic quanto seus habitantes... lugar onde eu moro, vivo e convivo.
A cidade que eu amo por todas as suas belezas e riquezas, seja por seus defeitos. Cidade que inspira poesias e canções como já ouvi de alguém e não me recordo onde.
De inúmeras definições: um lugar comum, de gente diferente, de culturas diversas, de história que aflora de suas ruas e lugares, do belo e do feio, dos arranha-céus, da tecnologia, do caos, da riqueza, da miséria, do trânsito caótico... feita de espaços especiais, para ocasiões especiais , de gente muito especial.
Cada lugarzinho traz uma lembrança colorida, gostosa, de momento feliz:
Da vez que eu fui ao Empanadas na Vila Madalena com a Pê e o Felipe. O Fê muito culto, mestrando da USP, bem magrinho, um pouco nerd. A Pê descolada, tudo a ver com a vila Madá. Eu, japinha, com o meu jeito meio meigo e nipônico de ser. Botecão de rua, com azulejos português nas paredes e zilhões de reportagens de jornais e revistas falando do badalado local é assim o Empanadas. A cada respiro, um ser adentrada ao bar pra oferecer bugigança pra quem tivesse a fim de comprar. Comprei até um livro de cordel de um cara de nome esquisito, uma barbicha de bode e um chapéu de nordestino.
Ou também na vila Madá no Blen Blen ( Black ), só black music e em geral, black people mas eu ( japa ), Carol ( loira ), Jorge Ricca ( praticamente albino, perto dos negões ), Michel ( holandês ) e Petita ( a mais black era ela por causa da praia...) pagando micão na pista de dança e de quebra, encontrar o “Jeromo” ( verdadeiro potiguar que a gente conheceu em Natal ) com uma galera de Curitiba. Rolou uma interação cultural l intensa, nunca vi tanta diferença de raça no mesmo cubículo. Só mesmo em São Paulo...
Mas tem ainda a Liba com seus japas, chinas e coréias. Não posso esquecer da vez que fui com a Jujuba no Tanabata Matsuri, ela e as crias como sempre. O Luquinhas aprendeu rápido a canção da província de Okynawa e a cada BUM do instrumento , soltava um grito + um Hey igualzinho da galera. E outra vez quando fui com o Léo, além da gente pendurar os pedidos nos galhinhos dos bambús ele ainda tirou uma foto com as Misses do Tanabata, ele no meio de todas aquelas japitchas de quimono. Acho que ele ficou muito feliz!
Ah, tem a Riviera de Vila Mariana entre nosso mar de prédios e areia de lajão está o Sesc. Point de Sol da galera dos escritórios e onde eu e Petita sempre nos aventuramos por um bronze. Legal que vira e mexe tem um conhecido: a Katita, o Márcio ( da ACB, que eu adoro apesar de ele só me chamar de Erika ) e a Regina que estudou francês comigo e faz guloseimas na cozinha do Sesc.
Tem o Parque do Ibirapuera, que de tão grande , eu e a Analu precisamos usar o Zepellin como “bússola”, é uma pena ele se movimentar tão depressa apesar do tamanho... ou marcar com um carioca no “Ibirapuera” enquanto você espera no parque e a pessoa no ginásio. Tudo culpa da gaúcha da Patchê!
A Ilha de Santa Cruz, shoppinzinho apertado no meio daquele monte de hospitais onde o Luição tem poltrona garantida e cativa aos domingos no Cinemark e onde eu e Petita, praticamente todas as sextas-feiras insistimos em chegar as 22h30 para o cinema, quando a sessão é as 22h e terminamos por bater papo no Braumeinstein, onde já somos VIP no suco de melancia e o “hostless” já nos conhece.
O estádio do Morumbi gigantesco , apesar de corinthiana, que fui conhecer em um dia de festa junina com o Ed. O amigo dele de infância e a família do cara muito legal, comiam muito, muito, muito mesmo. Um saldo mais ou menos assim: 3 cachorros quente, 5 tempurás, 1 maçã do amor, 3 pastéis, 2 raspadinhas, 3 yakissobas, 2 churrascos, 2 morangos com chocolate, 1 pipoca, quentão ( vários ), cervejinha ( várias ) , refri ( vários ), água ( várias ) etc.
O aglomerado de camelôs, um ao lado do outro, gritando até esmilinguir, disputando o espaço com sacolas e transeuntes. Picando a mula quando o rapa chega. Eta, 25 de março!!! Reduto do consumo barato e quinquilharias. Me lembra o livro emprestado pelo Rei: “ Anel, cordão e perfume barato”. Recordo o episódio, ao qual não estava presente e que posso perfeitamente imaginar, não somente o cenário mas a cena completa com direito a figurantes e script da atriz principal: “ The name of this place is MUVUCA!” disse a Carol para o Michel logo que deram de cara com aquele mundaréu de gente. O Michel com toda a sua educação européia, só teve tempo de repetir MUVUCA com seu sotaque holandês e concordar com a cabeça, prova de quem compreendeu qual era o espírito da coisa.
Não posso me esquecer nunca de todos os dias que passei entre a Estação da Luz, Pinacoteca do Estação, Estação Júlio Prestes, Sala São Paulo, Parque da Luz, Vila Inglesa, Museu de Arte Sacras, D.O.P.S, infurnadas – Eu, Bé, Petita, Carol e Dri Coca – em pesquisa de campo para os estudos da Facú. A Carol lançando um grito super amigo para a organizadora da feira ( acho que é Elza, ou Elvira ) e a mesma respondendo imediatamente com um “oi” tão falso que soou como um “nunca te vi mais gorda”.
Enfim, seja um bar, praça pública, parque, clube, shopping, estádio de futebol, uma rua ou um bairro... com certeza São Paulo guarda algo especial pra você. Ela é importante pra mim e só esse fato, já vale a minha homenagem!
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