Sunday, May 29, 2011

Bullying
 
Eu estava assistindo um programa na TV, um tipo de conversa de salão de beleza onde as pessoas iam trocando idéias com o cabelereiro, o maquiador, a manicure e contando um pouco de suas vidas.
O assunto era sobre a infância, se as pessoas haviam sofrido algum tipo de preconceito, de discriminação, de brincadeiras maldosas - a modinha no momento - o tal do bullying. Daí que uma senhorinha disse que sofreu muito por causa do sotaque português e que os garotos tiravam muito sarro da forma como ela falava e uma outra moça negra, disse que sofreu muito preconceito por ser a única garota negra em uma escola particular... e eu lembrei um pouco da minha infância, porque eu, minha irmã e meus três primos éramos praticamente os únicos descendentes de japoneses em uma escola pública da periferia de São Paulo. É claro que passamos pelas brincadeiras dos "olhos puxados", "ô japonesa!", "olho rasgado", "tá enxergando?", ou quando tentavam se comunicar com um "xinxinxin, xanxanxan, né?". Minha mãe sempre disse para a gente não engolir as brincadeiras se não gostássemos dela. Ela dizia: "mas você tem que falar que não é japonesa, porque nasceu no Brasil e que apesar de suas características orientais, é brasileira". E dizia mais: "tem que ter orgulho da sua origem, seus avós vieram de muito longe para um outro país, sem dinheiro, sem a mesma cultura e mesmo idioma e mesmo assim, eles venceram na vida". Com seis, sete ou oito anos isso não é muito fácil de engolir e eu sentia mesmo que não queria ser diferente, afinal, porque é que eu não podia ser igual aos outros? Por outro lado, nunca fui deixada de lado, sempre tinha alguém que gostava do meu jeitinho diferente, achava bonito o meu cabelo, os tais olhinhos puxados, a inteligência, o jeito meiguinho e tímido do meu ser. Mas eu não reparava muito nisso quando criança e quando adolescente, foi ainda pior. Eu me escondia um pouco porque queria ser igual às outras meninas de cabelos encaracolados, castanhos platinados, com aqueles mega cílios naturais, com peito, bunda e cintura. Eu era magrela e franzinha.
E aconteceu o que a senhorinha portuguesa e a moça negra disseram: um dia, elas se descobriram e passaram a se amar como eram e quando aceitaram isso, parece que o mundo descobriu que elas eram mesmo diferentes e lindas! Aconteceu comigo também. Eu pensei: por que ser igual a todo o mundo, se ser diferente é o que me torna especial? Um pouco exótica, para os garotos existia uma curiosidade e um pouco de fetiche, mas o que importava era que eu era bonita do meu jeito, com meu cabelão preto e hiper mega liso (que todas as meninas queriam ter), magricela ( o que todo o mundo queria ser), baixinha (nada que um salto alto não resolvesse), com os olhinhos puxados (isso não tem como mudar muito, talvez uma plástica de ocidentalização...). E então eu passei a gostar de mim e ser respeitada pelo fato de eu ser exatamente o que queria ser e daí não fazia mais o mesmo efeito quando alguém me chamava de japa, japinha, japoneusa e o que mais eles queiram me chamar. Me assumi como oriental, como descedente de japoneses que sou e é isso aí: JAPA COM MUITO ORGULHO!!
O resultado do programa era que as pessoas admitiam que o que elas eram hoje, fazia parte do que elas foram e se tornaram com o passado. E para mim também foi essa transformação que fez com que um dia, eu, avessa à tudo o que vinha da terra do sol nascente, começasse a curtir a culinária nipônica (que eu não conseguia gostar), as músicas pop japonesas (só conhecia da música enka), o idioma japonês (que minha irmã tentou me ensinar, aprendi muito pouco porque achei muito difícil), as tradições (essas muito especiais porque remetem aos meus antepassados e avós) e os garotos (isso merece um capítulo à parte qualquer hora...), que fez com que eu me apaixonasse pelo melhor marido do mundo: o Má.

2 comments:

Anonymous said...

Adorei seu comentário sobre o Bullying.
Acredito que nós japas, na infância, sempre somo alvo desse tipo de discriminação (por mais inocente que seja), mas quando nos encontramos e passamos a nos amar como somos, percebemos que ser diferente é a melhor coisa do mundo!

Marcos Ohira

Daniela said...

Isso aí! Acho que se fazer de vítima, ao invés de mostrar o próprio valor, cria essas mentes doentes que vemos nos dias de hoje... ou o Jô Soares nunca foi chamado de gordinho, os Ronaldos de dentuços e o Bill Gates de nerd??